Enquanto um misto de tragédia e pantomima se desenrola aos nossos olhos atônitos, escrevo esta coluna meio ressabiada: como estará o Brasil quando ela for publicada, isto é, em dois dias? Estamos no meio de um vendaval desconcertante: numa mistura entre público e privado como nunca se viu, correntes inimagináveis de dinheiro sem origem ou destino declarados jorram sobre nós levando embora confiança, ética e ilusões.
O drama é que não somos arrastados por “forças ocultas” ou ventos inesperados. Devíamos ter sabido. Muitos sabiam e vários participaram – embora apontem o dedo uns para os outros feito meninos de colégio: “Foi ele, foi ele, eu não fiz nada, eu nem sabia de nada, ele fez muito pior”. Espetáculo deprimente, que desaloja de seu acomodamento até os mais crédulos.
Se mais bem informados, poderíamos ter optado diferentemente em várias eleições – mas nos entregamos a
miragens sedutoras e idéias sem fundamento. Agimos como cidadãos assim como fazemos na vida: omissos por covardia ou fragilidade, por fugir da realidade que assume tantos disfarces. Deixamos de pegar nas mãos as rédeas da nossa condição de indivíduos ou de brasileiros, e isso pode não ter volta. Fica ali feito um fantasma pérfido: anos depois, salta da fresta, mostra a língua, faz careta, ri da nossa impotência. Não dá para voltar, nem sempre há como corrigir o que se fez de errado, ou que deixou de ser feito e causou graves mazelas.
(Lya Luft, É hora de agir. Veja, 27 de julho de 2005.)
Questão 43
Quanto à organização das idéias no texto,
a) obedece à lógica de um texto de natureza jornalística, que tem o dever de informar sem expressar o ponto de vista do autor ou do jornal.
b) segue o modelo da crônica de costumes, com foco na percepção irônica da vida em sociedade.
c) observa o modelo clássico do texto literário, optando por tratar de temas universais em linguagem filosófica.
d) funda-se na relação entre apreciações de cunho pessoal e argumentos baseados em fatos.
e) centra-se na discussão da vida nacional, adotando o ponto de vista de observador que se abstém de expor avaliações.
Questão 44
Assinale a alternativa em que o trecho do texto, reescrito, apresenta-se de acordo com os princípios de concordância e colocação pronominal da norma culta.
a) O drama é que “forças ocultas” ou ventos inesperados não o arrasta.
b) Sobre nós jorra dinheiro sem origem ou destino, em correntes que não se imaginam.
c) Escrevo essa coluna mais ressabiada, enquanto nossos olhos atônitos vê se desenrolar um misto de tragédia e pantomima.
d) Se desaloja até os mais crédulos de seu acomodamento, graças a esse espetáculo deprimente.
e) Poderia-se ter optado diferentemente, em várias eleições, se a população toda estivesse mais bem informado.
Questão 45
Considere as orações em destaque e numeradas nos períodos abaixo.
Muitos sabiam e vários participaram – (I) embora apontem o dedo uns para os outros.
(II) Se mais bem informados, poderíamos ter optado diferentemente em várias eleições – (III) mas nos entregamos a miragens sedutoras e idéias sem fundamento.
Assinale a alternativa correta.
a) A oração (I) expressa condição e tem equivalente adequado em – mesmo apontando o dedo uns para os outros.
b) A oração (II) expressa modo e tem equivalente adequado em – a menos que fôssemos mais bem informados.
c) A oração (III) expressa conseqüência e tem equivalente adequado em – entretanto nos entregamos a miragens sedutoras e idéias sem fundamento.
d) As orações (I) e (III) são sintaticamente equivalentes, e as conjunções que as introduzem podem ser corretamente substituídas por desde que.
e) As orações (II) e (III) expressam, respectivamente, condição e ressalva, e a (II) tem equivalente adequado em – caso fôssemos mais bem informados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário